(...)"Bendita sejas, perigosa matéria, mar violento, indômita paixão, tu que nos devoras se não te acorrentamos.
Bendita sejas, poderosa matéria, evolução irresistível, Realidade sempre nascente, tu que fazendo estourar a todo instante nossos quadros, nos obrigas a perseguir sempre mais longe a Verdade.
(...) Bendita sejas, mortal matéria, tu que, dissociando-te um dia em nós, nos introduzirás, forçosamente, no próprio coração daquilo que é.
Sem ti, Matéria, sem teus ataques, sem tuas espoliações, viveríamos inertes, estagnados, pueris, ignorantes de nós mesmos e de Deus.
Tu que feres e que curas, tu que resistes e és dócil, tu que arruinais e que construis, tu que acorrentas e que libertas__Seivas de nossas almas, Mão de Deus, Carne de Cristo, Matéria , eu te bendigo...
Eu te bendigo, Matéria, e eu te saúdo, não como te descrevem, reduzida e desfigurada,os pontífices da ciência, e os pregadores da virtude,__ um amontoado, dizem eles, de forças brutais e baixos apetites,__ mas, tal como me apareces hoje na sua totalidade e verdade.
Eu te saúdo, inesgotável capacidade de ser e de Transformação que germina e cresce a Substância escolhida.
Eu te saúdo, universal poder de aproximação e de união, por onde se religa a multidão das mônadas e no qual convergem todas para o caminho do Espírito.
Eu te saúdo, fundamento harmonioso das almas, límpido cristal, donde é tirada a nova Jerusalém.
Eu te saúdo, Meio Divino, carregado de poder criador, oceano agitado pelo Espírito, Argila que o Verbo Encarnado modela e anima._
Crendo obedecer ao teu irresistível apelo, os homens se precipitam frequentemente, por amor de ti, no abismo exterior dos prazeres egoístas.__ Um reflexo os engana, ou um eco.__Eu o vejo agora.
Para te atingir, matéria, é preciso que, partindo de um universal contato com tudo o que se move aqui em baixo, sintamos, aos poucos, esvair-se entre nossas mãos as formas particulares de tudo aquilo que detemos, até que permaneçamos abraçados com a essência única de todas as circunstâncias e de todas as uniões.
É preciso, se quisermos te possuir, que te sublimemos na dor, depois de te haver estreitado voluptuosamente entre os braços.
Tu reinas, Matéria, nas alturas serenas onde pensam te evitar os Santos, carne tão transparente e tão móvel que já não te distinguimos de um espírito.
Arrebata-me, lá para o alto, Matéria, pelo esforço, pela separação e pela morte__ transporta-me para lá. Onde será possível, enfim , abraçar castamente o Universo"(...)
Extraído do texto "O Poder Espiritual da Matéria" De Pierre Teilhard de Chardim" in Mundo, Homem e Deus, Ed. Cultrix, 1980, SP.
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