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Textos de própria autoria, salvo aqueles que citam fontes ou outros autores.( Renata )


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Amor plebeu




Estou escrevendo esta carta contando uma história muito especial da minha vida para que as pessoas saibam enxergar melhor os momentos que podem mudar pra sempre a vida da gente. Aconteceu comigo, pode acontecer com você também.
Eu era motorista de uma linha que fazia o horário da tarde. Pegava aqueles picos de saída e entrada de escola, bem na hora do almoço. Tinha que aguentar gente mal humorada, que pensa que motorista de ônibus é bode expiatório, prá briga com a sogra, falta de dinheiro, dor de corno e tudo que você consegue pensar.
Mas, quando ia chegando o final da tarde, parecia que o dia estava nascendo para mim. Todo cansaço ia embora, e eu ficava esperando chegar minha última viagem da Praça Rui Barbosa para o Terminal. Meu coração ficava agitado, sentia meu rosto quente. Não era porque era hora de descansar, era por que era nesta hora, que um raio de luz entrava no meu ônibus e na minha vida. Ela entrava junto com a gurizada de uma escola. A criançada entupia a catraca, então ela ficava ali do meu lado, dava um sorriso, cumprimentava e ia conversando comigo até chegar ao terminal. Juro que tinha dia que eu lembrava do trajeto que eu tinha feito, se tinha deixado passageiro no ponto.Eu nem via.
Esperava o dia inteiro para chegar a hora de ver aquela mulher... Achava ela um encanto. Cintura fina, perna grossa, e acima de tudo uma simpatia, um sorriso. Eu me sentia de novo um garoto. Logo eu, já quase me aposentando, desacreditado do amor, ali, pagando mico de ficar quase babando quando ela chegava perto de mim.
O cobrador às vezes pegava no meu pé. Mas, vale que, às vezes mudava de cobrador, então eu ficava mais solto prá conversar com ela. Sabia tudo dela. A idade, o trabalho, onde morava. Só não gostava de saber uma coisa. Ela era casada e tinha uma porção de filhos. Tinha casado muito cedo, já tinha até neto. Mas, era nova, bonita, vistosa, trinta e poucos anos, parecia uma menina...
Quando eu chegava ao terminal era hora da troca de turno, eu aproveitava pra descer junto com ela e continuar a conversa. O tempo não passava, eu não queria que ela fosse embora nunca. Despedia dela com um boa noite e um aperto de mão, já na fila do outro ônibus que ela pegava. E eu ficava ali, feito bobo, esperando o carro se afastar e pegar o caminho do bairro dela.
Teve um dia que ela não veio. Um filho estava doente. Fiquei sem rumo. Passei a noite sem dormir. Achei até que era comigo. Que ela tinha pegado um carro de outro horário, porque eu estava exagerando, dando muita bandeira. Mas, depois que fiquei sabendo, coitada, cheguei a dar graças a Deus, por seu filho estar doente. E que era só isso...
Uma tarde, a linha para o seu bairro deu acidente e atrasou tudo. Ela ficou sentada no banco do terminal conversando comigo, do meu lado... Então me contou que estava muito triste, que aquilo que vivia nem era casamento mais, fazia tempo. Só pensava nos filhos, por isso trabalhava bastante, pra sustentar a casa. Quando chegava, ainda ia fazer a janta, lavar roupa, cuidar da casa. Dormia mais de meia noite. Levantava às seis. Chegou a chorar, estava muito infeliz. Não vi mais nada. Quando percebi estava grudado nela, num beijo que não acabava nunca. Que química, que mulher... Podia sentir todo o calor que ela trazia dentro dela, parecia um vulcão que ia explodir. Ela não disse nada, levantou, passou a mão no meu cabelo, sorriu e foi embora.
No dia seguinte era minha folga. Decidi fazer uma surpresa. A única coisa que podia acontecer era ela dizer um não... Mandei lavar e encerar meu Chevette e fiquei esperando na esquina, perto do ponto. Queria dar uma carona para ela, antes que o ônibus passasse. Quando vi que ela saía do prédio onde trabalhava, dei uma volta na quadra e alcancei a moça antes que chegasse ao ponto.
Brincou quando me viu, dizendo que meu carro tinha encolhido e por isso ela não ia pagar a passagem. Deu uma risada gostosa e entrou no meu carro e na minha vida. O carro ficou mesmo pequeno pro tamanho da paixão que rolou entre nós. Parecia que a gente nunca tinha estado longe, que a gente tinha nascido grudado. Não dava pra ficar um dia sem se ver. A gente fez bater as duas folgas, a minha e a dela, e a gente ia prá minha casa, numa lua de mel que parecia não acabar nunca. Ela era uma maravilha na cozinha, fazia cada coisa gostosa, mas confesso que era ainda melhor na cama... Remocei, fiquei uns quinze anos mais novo, de tão feliz que eu estava.
Um dia disse que tinha uma novidade, que não sabia se eu ia gostar. Esperei chegar minha folga para saber da surpresa. Pensei que era um presente, e era. Numa caixinha, enrolado com papel de seda, ela me deu um par de sapatinhos de neném, feitos de tricô, branquinhos, com um laço de fita...Chorei...Eu ia ser pai... Por um acidente do destino eu ia ser pai. Não tive dúvidas que eu era o pai. Mas, o que ela ia dizer em casa, para o marido e para os filhos?
 Doente de ciúmes concordei com a solução. Ela ia encenar uma tentativa de reconciliação com o marido, que não dormia mais com ela, para fazer parecer que ele era o pai da criança. Quase morri. Concordei. Tinha medo por ela. E se ele fosse violento. Meu filho estava em risco.
Ela me contou chorando, que tinha feito uma festa no Domingo, que o marido tinha bebido bastante cerveja e se engraçado para o lado dela, e todo mundo viu quando ele foi deitar com ela, só que ninguém viu, foi que ele não deu no coro e caiu dormindo, sem lembrar nada no dia seguinte. Estava feito. Ela não tinha coragem de ir embora comigo, precisava cuidar dos filhos. Amava os filhos e isto me fazia gostar ainda mais dela, porque sabia que ia ser uma boa mãe para o nosso pimpolho.
Logo que pode fazer a ecografia para ver o sexo do bebê, eu fui junto, estava passado de curioso. Era uma menina, meu Deus. Chorei que nem criança, como nunca tinha chorado, nem quando minha mãe morreu. O que me doía mais era que ela ia crescer longe de mim, pensando que era filha de outro, que não teria nem de longe. O amor que eu já sentia por ela.
A gente decidiu que ia deixar  que ele registrasse  a criança, mas, assim que os outros filhos crescessem mais um pouco, a gente ia fazer um DNA e registrar a menina no meu nome.
No dia do batizado, fui à missa e fiquei no final, para ver, do fundo da igreja, o batizado da minha filha.

Eu via minha mulher no meio da semana e nos fins de semana ela dava um jeito de sair sozinha para passear com o bebê e eu podia passar uma tarde com as duas mulheres que mais amava na vida.
Até que chegou um dia que não deu mais. Ela conversou com o marido. Disse que estava gostando de outro, que estava cansada de ser tão explorada. Deixava a casa prá ele. Os filhos estavam grandes, já estavam trabalhando. Que ela ia embora levando só os dois menores. Ele viu que ela estava decidida e que não tinha mesmo jeito e deu o divórcio amigável. Até confessou que já estava gostando de alguém e que ia levar para morar com ele e as crianças.
Deu tudo certo, eu nem acredito. Quando ela entra no ônibus e me beija, eu me sinto um artista de cinema. Depois que a gente chega ao terminal, sentamos naquele banco, prá namorar um pouquinho, passamos na escola prá pegar as crianças e vamos continuar o namoro em casa, numa viagem que eu quero que não acabe nunca. Descobri que o amor existe. E felicidade também.