SEJA BEM VINDO


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ACESSAR A ARTE COMO INSTRUMENTO DE INTEGRAÇÃO E COMUNHÃO UNIVERSAL É UMA ESCOLHA PRIVILEGIADA...

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Textos de própria autoria, salvo aqueles que citam fontes ou outros autores.( Renata )


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Para Leila


              

              A casa era ao lado da Igreja, não tinha cerca, e a varanda ficava exposta. Foi ali que ela depositou o gordo ramalhete de rosas vermelhas, e no envelope, o cartão e um anel solitário de diamante.
No envelope, um nome: "Para Leila".
Findara-se assim um doloroso dilema, de uma longa e interminável semana. Tudo começou quando ela tentou vender o anel em todas as joalherias da cidade. Ninguém queria comprar, e ela precisava pagar o aluguel.
Um LP de vinil e um anel solitário de diamante era tudo o que ficara de um noivado frustrado, mas, que a fizera ver o mundo com outros olhos, um verdadeiro aprendizado. Achava que agora sabia dar valor às coisas que realmente mereciam atenção:__A vida, a família, a solidariedade, a interioridade... Sentia-se mais madura e desapegada das coisas materiais que pudessem escravizá-la de algum modo.
Estranho foi o que ela sentiu quando não conseguiu, de forma alguma, vender seu brilhante. Cansada e decepcionada, ficou olhando para aquele valioso anel que de nada lhe servia. Foi quando teve uma sensação, que não chegou a ser audível, de que alguém que lhe pedia:
__Dá-me.
Olhando ao redor, não viu ninguém. Nem mesmo da janela, alguém se aproximara. Mas ouviu de novo:
__Dá-me.
Desta vez sentiu que a voz vinha de dentro dela mesma, do seu próprio peito, se é que isto é possível.
Durante uma semana ela lutou para não ouvir esta voz. Relutou de todas as formas contra esta sensação de estar dentro de um surto psicótico.
Levou a vida normalmente. No trabalho, em casa, com os amigos...
No ensaio do grupo de teatro, ficou sabendo a história de Leila. Acabava de voltar do hospital. Tinha tentado o suicídio. Vestido de noiva, festa pronta, o noivo sumiu. Leila não queria mais viver, sentia-se rejeitada.
A história desta moça, agora, fazia parte do que ela pensava ser um delírio... Não conseguia esquecer a tal sensação interior, só que desta vez, vinha clara a sensação de que era responsável por fazer algo por esta moça que tanto estava sofrendo. Raciocinou que, um choque emocional importante, tiraria Leila da profunda depressão em que se encontrava.__Mas, o que tinha ela a ver com isto? Foi passear no fim de semana, para ver se arejava as idéias e esquecia tal alucinação obsessiva que a atormentava dia e noite. Não podia mais dormir, tinha que fazer algo para ter paz e retomar seu sossego e as maravilhosas e sonolentas noites.
Tomou uma decisão, mandaria umas flores em nome do grupo de jovens do teatro com votos de solidariedade e pronto restabelecimento... Foi à floricultura. Chegava o caminhão de flores. Rosas enormes e vermelhas perfumavam o ambiente. __Quero uma dúzia destas, com ramos verdes e aquela florzinha branca no meio... Enorme... Ficou lindo... É isto e pronto!
Na escolha do cartão, um arrepio a perpassou por inteiro, dos pés à cabeça. No tripé de exposição, o primeiro cartão, o maior e mais bonito, tinha uma pintura com a face do Mestre, ar magnânimo, olhos transparentes e profundos que calaram todas as suas dúvidas:
__ Dá-me!
 Sentiu o eco de aquela palavra reverberar dentro de si mesma, como se estivesse oca e vazia, como os espaços das casas baldias são a morada predileta dos grandes e sonoros ecos.
Tomou o cartão, pagou e pensou no que ia escrever... Nada lhe vinha à mente, um branco total... Pediu luzes ao Mestre, e que lhe desse a Paz perdida que tanto precisava. Num lampejo, uma frase, simples e direta... Era tão óbvia e lúcida, que ela deixou que a caneta deslizasse no papel, sem lhe opor resistência:
"__Leila, você é um diamante muito precioso para mim..."
 Colocou o cartão no envelope e foi entregá-lo pessoalmente. A porta da casa estava fechada, a varanda vazia. Colocou no chão o ramalhete, sobre o pequeno tapete, ia bater à porta e sair de mansinho, antes que alguém atendesse. Mas ficou por instantes, petrificada, com uma sensação estranha de estar traindo a si mesma... Não era bem isso que devia fazer... E, lá no fundo, sabia o que tinha de ser feito. Deixou deslizar pelo dedo o anel com o diamante em relevo... Colocou-o no envelope, juntou-o às rosas, bateu suave na porta, escutou passos e saiu de mansinho, dobrando a esquina...
Tinha apenas uma leve dúvida. Se, tivera o desprendimento, de ter dado algo de seu, a Alguém que lhe pedira com tanta insistência, será que Ele se importaria por ela ter tido o atrevimento de, em Seu Nome, assinar o cartão? No final da tal frase assinara: JESUS.
Chegou logo em casa, abriu o portão, entrou. Seu jardim, um emaranhado de fetos e gramíneas, parecia estar mudado. Era como se uma aura luminosa emanasse dele. Então, percebeu que a luz, não estava no jardim, mas dentro dela. Abaixou-se para ver os pequenos brotos que se desenrolavam de maneira prodigiosa. Estava em êxtase com a beleza com que se manifestava o milagre da vida, e por participar incondicionalmente dele.
Na semana seguinte, a família de Leila mudou-se. Ela tivera uma melhora repentina. Resolveram mudar de cidade e de vida. Começar de novo. Estudar, ou algo assim...
Nunca mais se ouviu falar de Leila, mas, passados mais de trinta anos, quando disto se lembrava, ainda tinha a sensação do milagre profundo, da mais perfeita e paradisíaca Paz...
Naquela noite, escreveu antes de dormir:

             Um menino passou no meu jardim
Desenrolando os brotos das samambaias.
E eu, mero raio de sol, observo,
Enquanto as aranhas
             Tecem maravilhosas teias,
Adornadas dos mais ricos diamantes.
Gotas de orvalho reluzentes...
Gavinhas agarradas à vida,
Seiva escorrendo poesia...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Práxis

Socialista.
Marxista.
Feudalista.
Fim da lista...

Chega de teoria,
De achar respostas vãs,
Pra tolas filosofias...

Pé no chão...
Duras cadeias...
Sangue correndo nas veias...
Exigindo explicação...

Abaixo a fundamentação,
A metodologia, o conceito,
Bate mais forte no peito,
Um maduro coração...

Que não quer só esperança,
Que quer ver, como criança,
Todo o sonho acontecer...

Realizar com constância,
Cada bem aventurança,
Que lhe ditou sua fé!

Que as mãos vazias se abram,
E leves como chegaram,
Entreguem  apenas amor...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ensaio Fotográfico sobre um Chapéu ...













Inusitado



    
    
Era madrugada. Talvez quatro horas da manhã. Acordou agitada, com um trajeto de ruas que não costumava fazer, saltando-lhe aos olhos. Pura imaginação pensou... Ficou preocupada. Sentiu arrepios. Isto era coisa de doido. Precisava voltar a dormir.
 Mas alguém chamava seu nome, e lhe falava de jóias. Que jóias, meu Deus! Só tinha uns poucos brincos, anéis e correntes, presentes da avó e madrinha, dos pais, da tia... Coisa pouca sem muito valor. Levantou-se da cama e pegou o porta- jóias...Olhou uma a uma as pequenas e únicas preciosidades que tinha. Eram de ouro, sim, mas nada de ostensivo, uma pedrinha de rubi no anel, perolazinhas pequenas nos brincos... Fechou-o e ia guardá-lo, quando sentiu novamente aquele arrepio percorrendo sua espinha... __Ah! Que meu sono se foi, e estou aqui assustada sem poder dizer isto a alguém. __ Pensou em acordar o irmão mais velho e pedir socorro, estava com medo.
Agora que não estava mais sonolenta, não escutou palavras, mas sentiu claramente o que devia fazer. Achou loucura, mas deixou-se levar por aquela intuição estranha... Levantou-se, vestiu-se, reuniu suas jóias num envelope. Sentiu um impulso de abrir o velho baú onde a mãe guardava com carinho, de lembrança peças do enxoval dos filhos, quando eram bebês... Escolheu um pouco de cada. Fraldas, camisinha de pagão, daquelas que a mãe bordara a mão, à luz de lamparina. Deixou um, pelo qual a mãe tinha especial afeto. Era um casaquinho branco, de cambraia, bordado com um coelhinho aplicado em fustão azul claro, recheado de algodão, que lhe dava um relevo interessante, parecia que ia saltar do tecido a qualquer momento...
Deixando-se ainda levar por aquele sentimento, foi devagarinho à cozinha e reuniu numa sacola, alimentos de que podia dispor. Pão, mel, um pedaço de bolo que fizera, com pêssegos do quintal.
Juntou tudo e abriu a porta de mansinho, para não acordar os irmãos. Teve antes o cuidado de deixar tudo pronto para o café, arrumado sobre a mesa...
Estava escuro, as luzes dos postes acesas, as ruas completamente desertas. Tinha certeza do trajeto, embora nunca tivesse passado por lá. Caminhou uns quinze minutos, sem encontrar ninguém pela rua. Não sabia de onde vinha esta coragem, mas sentia-se muito leve e segura.
No caminho havia uma grande casa, com as luzes acesas e algumas pessoas conversando na garagem. Um nome lhe veio aos lábios, mas era tão comum, que podia ser só um engano ou alucinação, pensou em voltar para trás, mas, perguntou:
__Por favor, a Maria?
__Ela avisou que você vinha, é o último quarto do corredor, à esquerda.
Entrou e foi direto para o tal quarto, sem falar com ninguém pelo caminho. A casa era um albergue noturno, destes que recolhem os andarilhos, para que não durmam no frio das ruas. Entrou no que deveria ser o alojamento feminino, com várias camas de solteiro, lado a lado. Numa cama estava uma moça, com um bebê ao lado. Ela lhe disse:
__Eu tinha certeza que você vinha. Eu pedi muito ao Pai, que, se neste momento tivesse um anjo que ele pudesse me mandar, que ele me mandasse, porque eu não sabia mais o que fazer. E eu tinha tanta certeza que você vinha que deixei avisado prá alguém te esperar lá na frente... É o meu bebê, sabe... A gente não tem nada prá ele. O dono da fazenda botou a gente na rua, com uma mão na frente e outra atrás, sem nada. Me deixam ficar aqui, enquanto meu marido procura emprego. Estou meio fraca, tenho que ficar na cama.
__O seu bebê, o que tem ele? __ perguntou a moça.
__Este aqui, nada, graças a Deus, minha preocupação maior é com esse aqui.
Levantando a coberta mostrou-lhe um ventre grávido e minúsculo para uma gestação que já estava a termo.
__Meu menino, disse ela, já tem mais de um ano... É miudinho, mas é esperto...
Embora ela afirmasse isto, via-se a fome e a desnutrição nos olhos do pequeno que fora desmamado cedo por conta de outra barriga...
A moça não pensou mais em nada. Pediu que ela lavasse o enxoval para o bebê que ia chegar, mostrando-lhe as peças. Entregou-lhe o lanche que trouxera e, sem mais resistências, o envelope com todas as suas jóias.
__Para as despesas do parto...
__Deus lhe abençoe...
Ele a abençoou, com uma experiência inusitada para uma simples mortal que ela era. Lembrara que antes de dormir pedira ao Pai que pudesse ser concretamente um instrumento do seu Amor... Ele a ouvira, juntando as duas filhas que conversavam com Ele naquela mesma noite. Uma se oferecendo e a outra pedindo ajuda...
Na semana seguinte passou na frente do albergue, curiosa que ficou por ter notícias. Foi reconhecida por alguém que estava no portão:
__Não foi você que ajudou a Maria e o Zé com o enxoval do neném? Já nasceu. Foram pra um sítio, que o Zé conseguiu emprego. Ele até chorou quando viu aquilo. Conseguiu vender bem “as jóia” e ajudou bastante eles. Foi você, não foi?
__O senhor está enganado, eu só estava passando por aqui, mas fico contente de saber, que ainda hoje, exista quem consiga fazer isto que o senhor me contou. Bom dia.
__Bom dia, pra você também, moça.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Águas revoltas


Burburinho, revolução...

Tudo é movimento...

Caos...

Agitação...


O mesmo universo,

Coberto por flores,

Aves e encantos...

Jaz em campo submerso...


Lembranças doces,

Poesias sublimes,

Silêncio do fundo d'alma,

Buscando, agora em si, a calma...


Mais fácil seria a entrega...

Comum a todos os viventes...

Vive-se, em vida cega...

Sem cultivar, lá na frente...


Mas, a tal da disciplina,

Esta, de si mesma, chamada ética

Brota no seio da menina

Dando-se ares de estética...


Sem isto não existe caminho,

Freia-se o crescimento,

Perde-se o anseio,

Morre ou dorme a evolução...


Que o belo surja do perdão

Se ele pode ser interação...

Ação recíproca, desejo irmão...

Cúmplice delícia... Reparação...


Si puedes perdona-me,

De tal polémica y alegoría?

Malgrado se engañar mi corazón...

Robando de pronto nuestra alegria?


Não por cobrar-te retorno...

Em mesquinha cantilena,

Mas estando ao teu entorno,

Sinto-me tão mais plena...