SEJA BEM VINDO


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COMUNICAÇÃO E INTERATIVIDADE SÃO INDISPENSÁVEIS PARA ACELERAR O PROCESSO EVOLUTIVO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA.

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Textos de própria autoria, salvo aqueles que citam fontes ou outros autores.( Renata )


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Hoje

Hoje tenho tempo...

Tenho todo o tempo nas mãos...

Tempo para escrever...

Tempo para pensar...

Tempo para ler...

Tempo para amar...

Já não pergunto sobre o tempo,

E os seus significados...

Hoje eu tenho tempo...

Para curtir os filhos...

Para cultivar uma flor,

Para sentir seu odor...

Hoje eu tenho tempo,

Para cuidar de mim,

Pra me pintar de carmim

No espelho de mim mesma...

Hoje tenho tempo...

De cultivar amigos...

Os novos e os antigos...

De abrir meus e-mails e meus inteiros...

Hoje tenho tempo...

Amanhã não sei,

Ele ainda nem chegou...

E se vir será um Presente!

Tem gente que nem sente,

Que o dia amanheceu...

Hoje tenho tempo...

De orar de um novo jeito,

Que alimenta a alma,

E liberta o coração...

Hoje fiz uma viagem,

Ao interior do meu ser,

Com paciência de lesma,

E, encontrando a mim mesma...

Quase chorei de emoção...

Descobri que sou feliz

De expandir o coração...

07.11.2007

Talento


Eu gosto mesmo é de escrever.

Foi minha primeira esperança,

Ao descobrir, de criança,

A sede de expressão!

De buscar como a ouro,

Cada letra e seu tesouro,

A confirmar declaração!

O ato de desnudar-se,

De agregar as vogais

De sentir este chamado,

E liberar os meus ais...

Desagravo

A fonte do tal talento,

De onde vem a inspiração,

Confesso, não é do teclado,

Mas, me vem do coração!

Do mais profundo de mim,

Onde me acho a sós,

Onde encontro querubins,

Onde desfaço meus nós!

Mais do que escrever,

Necessito meditar,

Daquele jeito mansinho,

Conjugando o verbo amar!

Confesso meio confusa,

Sem a Fonte nada sou,

Não existe estado de graça,

Sem o Amor que me criou!

Como o orvalho sereno,

Bendigo toda habilidade,

Que venha para o Reino,

Reconstruir na Verdade!

04.03.2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lar

Os dedos do menino,

Os dedos no teclado...

Martelam travessuras,

Respingam melado...

Os dedos da menina,

Transpiram poesia...

Os dedos na cortina,

Os olhos na janela...

Os olhos que os cuidam,

Traçam doces caminhos...

Na esperança se fecham,

Molhados de carinho...

As mãos que os sustentam,

Sinais do tempo já mostram...

Quase na dor esmorecem,

Se unindo em pia prece...

A boca que os embala,

Não sabe se fala ou cala...

Na dúvida estala um beijo,

E outro beijo estala...

Os ouvidos que os percebem,

Bem sabem à solitude...

Mas, num momento, se os perdem,

Esvaziam tal atitude...

Os braços que os abraçam,

Já estão leves, tão vazios...

Sentindo que vôos alçam,

Um dia deixando o ninho...

O coração onde moram,

A menina e o menino,

Só sabe contar histórias,

De adormecer de mansinho...

"O Poder espiritual da matéria"



(...)"Bendita sejas, perigosa matéria, mar violento, indômita paixão, tu que nos devoras se não te acorrentamos.
Bendita sejas, poderosa matéria, evolução irresistível, Realidade sempre nascente, tu que fazendo estourar a todo instante nossos quadros, nos obrigas a perseguir sempre mais longe a Verdade.
(...) Bendita sejas, mortal matéria, tu que, dissociando-te um dia em nós, nos introduzirás, forçosamente, no próprio coração daquilo que é.
Sem ti, Matéria, sem teus ataques, sem tuas espoliações, viveríamos inertes, estagnados, pueris, ignorantes de nós mesmos e de Deus.
Tu que feres e que curas, tu que resistes e és dócil, tu que arruinais e que construis, tu que acorrentas e que libertas__Seivas de nossas almas, Mão de Deus, Carne de Cristo, Matéria , eu te bendigo...


Eu te bendigo, Matéria, e eu te saúdo, não como te descrevem, reduzida e desfigurada,os pontífices da ciência, e os pregadores da virtude,__ um amontoado, dizem eles, de forças brutais e baixos apetites,__ mas, tal como me apareces hoje na sua totalidade e verdade.
Eu te saúdo, inesgotável capacidade de ser e de Transformação que germina e cresce a Substância escolhida.
Eu te saúdo, universal poder de aproximação e de união, por onde se religa a multidão das mônadas e no qual convergem todas para o caminho do Espírito.
Eu te saúdo, fundamento harmonioso das almas, límpido cristal, donde é tirada a nova Jerusalém.
Eu te saúdo, Meio Divino, carregado de poder criador, oceano agitado pelo Espírito, Argila que o Verbo Encarnado modela e anima._
Crendo obedecer ao teu irresistível apelo, os homens se precipitam frequentemente, por amor de ti, no abismo exterior dos prazeres egoístas.__ Um reflexo os engana, ou um eco.__Eu o vejo agora.
Para te atingir, matéria, é preciso que, partindo de um universal contato com tudo o que se move aqui em baixo, sintamos, aos poucos, esvair-se entre nossas mãos as formas particulares de tudo aquilo que detemos, até que permaneçamos abraçados com a essência única de todas as circunstâncias e de todas as uniões.
É preciso, se quisermos te possuir, que te sublimemos na dor, depois de te haver estreitado voluptuosamente entre os braços.

Tu reinas, Matéria, nas alturas serenas onde pensam te evitar os Santos, carne tão transparente e tão móvel que já não te distinguimos de um espírito.
Arrebata-me, lá para o alto, Matéria, pelo esforço, pela separação e pela morte__ transporta-me para lá. Onde será possível, enfim , abraçar castamente o Universo"(...)

Extraído do texto "O Poder Espiritual da Matéria" De Pierre Teilhard de Chardim" in Mundo, Homem e Deus, Ed. Cultrix, 1980, SP.

Intuscepção*



Olha a mesa do poeta,
Mesa posta,
Posta fria.
Sopa sombra sibilante,
Bhrama bruma espumante...
Olha a mesa do poeta,
Olha os olhos,
Olha a fome...
Não é fome de comer,
Osso duro de roer...
É soprar sopro certinho...
De acordo com o sonho...
Frio banho, amanhecer...
O gosto exato da vida
O exato gosto da morte
A receita?
Não achei...


*intuscepção é a condição dos seres vivos crescerem de dentro para fora, e não por superposição como pode acontecer, por exemplo, com as pedras...

Regresso

Voltei às raízes...
Ao extrato do meu ser...
Meu cantinho sagrado,
Sob tutela divina...
Inabalável, sublime...

Voltei às raízes...
À seiva que sustenta,
A minha árvore antiga,
Mantida entre tantas idas e vindas,
Entre prantos e cantigas...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Conversa no ônibus

Clarinha subiu no ônibus, logo ali, na Iguaçu. Tinha levado o menino no médico, perto do Hospital Pequeno Príncipe. Uma senhora entrou logo depois no ônibus, talvez no próximo ponto. Vinha cheia de sacolas, uma touca de lã na cabeça. Tinha ares de quem fazia quimioterapia, desta que fazem cair o cabelo. O jeito é variar em tudo que se pode, para esconder a cabeça... Puxou conversa:
__A senhora gostou da minha touca? Sou eu mesma que faço... Tenho uma porção delas...
Clarinha deu corda:
__É bem bonita.
__Estou indo visitar meu neto na escola, estou levando uma porção de coisas que ele gosta, passei no mercado antes. Este ônibus para na Sete?
__Para sim, eu lhe digo o ponto, vou descer bem depois...
__Eu não moro aqui, continuou ela, sou lá do alto da Glória. Meu filho aluga um quarto prá mim. É bonito, grande, mobiliado. Numa daquelas casas grandes e antigas. Tem até telefone no quarto. Tem mais dois casais que dividem a casa. Só a cozinha a gente usa junto. A senhora sabe quanto está o aluguel por aqui, ficava mais perto, para eu ir ver meu neto. Venho uma vez por semana na hora do recreio dele. Lá, eu pago duzentos e cinqüenta, mas com tudo mobiliado, incluindo as contas de luz, água e telefone...
__Acho até que a senhora achava alguma coisa por aqui, mas, não ia ter todo este conforto, nem as despesas incluídas. Depois, lá a senhora não está sozinha, tem os casais por perto, qualquer coisa é só chamar alguém.
__É mesmo, a senhora tem razão. Sabe, eu morava com a minha filha, quando ela separou. Eu cuidei do menino dela desde que nasceu. Mas, agora ela casou de novo, o apartamento ficou pequeno e a paciência da minha filha encolheu. Já não sou a mesma que eu era... Não parece, mas eu já tenho quarenta e oito anos. Daqui a dois anos faço setenta...
Clarinha percebeu que ela tinha se enganado na idade, mas ficou quieta, fez que não percebeu, por que, a esta altura o ônibus inteiro ouvia a conversa da mulher e tinha uma risadinha de deboche no ar, por que ela falava muito alto e já tinha tentado conversar com outras pessoas antes de sentar ali, e ninguém lhe dera muita atenção. Contou sobre os filhos. Falou de outros netos distantes. Apontei o ponto do ônibus, mas ela tinha que acabar de contar o que tinha começado. Os outros passageiros começaram a ficar incomodados que a mulher ia perder o ponto da Sete. Uma passageira falou:
__Levanta logo, que a senhora não vai conseguir descer neste ponto.
Ela desceu do ônibus, apressada, não sem antes beijar e abraçar rapidamente Clarinha e o menino.
Quando ela desceu do ônibus todos os passageiros lhe disseram:
__ "Tchau"!
Depois o ônibus silenciou-se e todos se entreolharam numa cumplicidade que ia além do conhecer ou desconhecer alguém. Foi só um momento de humana compreensão pelo estado de solidão que devia viver a tal senhora. O menino de Clarinha, que não era de ficar muito tempo quieto, prestou atenção em tudo, calado, de olhos arregalados. Depois perguntou:
__Mãe, ela era tua amiga há muito tempo?
__Não, meu filho, acabei de conhecer...
__Nossa, mãe, então como ela contou a vida toda prá você! Ela te pediu alguma coisa?
__Ela só pediu uma coisa, meu filho, ela só queria um pouco de atenção, de alguém que escutasse o que ela tinha prá dizer.
Clarinha lembrou-se de um amigo carioca, que visitando Curitiba, achou muito elegante os ônibus rodando com os passageiros em silêncio ao som de musica clássica, e pensou:
__Muita gente pode achar um grande "mico" ouvir histórias nos ônibus e dar atenção, aos passageiros que os adolescentes de hoje chamariam de “mala", mas às vezes estas malas vêm recheadas de tanta sabedoria que vale a pena esquecer-se de olhar o relógio ou parar de se esconder atrás da parafernália que a gente vê como armadura de defesa nos passageiros de ônibus. Prá começar, óculos escuros; fones nos ouvidos, com música, para não ter nenhum espaço que dê margem para alguém lhe olhar nos olhos e dizer:
___Bom dia, Será que vai chover hoje?
(Um jeito clássico de quem quer se mostrar aberto a um bom papo...)

VIDA DE CÃO

Viajando para o Mato Grosso, fiquei hospedada na casa de um professor que me levaria para conhecer a Universidade local. A empregada, muito mal humorada, fazia questão de mostrar que não estava feliz com visitas extras na casa, o que me deixava bastante constrangida. Como estava em cidade estranha e iria embora só no fim do dia, decidi fazer algo para amenizar o stress. Sentei-me num canto, abri um livro e mergulhei em outra realidade mais agradável do que aquela, imediatamente presente ali.
Percebi que despertara certo interesse na serviçal, que largou tudo o que fazia para observar minha silenciosa leitura. Parecia fascinada de ver-me ali, quieta mergulhada nas minhas idéias.
Sentindo-me continuamente observada, levantei os olhos e vi uma pessoa completamente diferente do que aquela que se me mostrara até então. Estava transfigurada por uma expressão que ficava entre uma alegre curiosidade e uma fome devastadora.
Confessou-me que tudo o que queria fazer, era isto que eu estava fazendo: Queria aprender a ler. Tinha ido ao Mobral, aquele antigo malversado projeto de alfabetização de adultos. Conhecia todas as letras, mas, não sabia juntá-las, tirando o suco delas, como, disse ela, me via fazendo agora...
Tocada interiormente, desarmei-me, e diante de tais argumentos, a chamei para sentar-se à mesa comigo,
Abri o livro, como quem partilha uma refeição. Vi que realmente ela conhecia as letras, mas faltava-lhe aquela famosa faísca de luz que abre os olhos de cada um que já descobriu as letras.
Brinquei com ela jogando com as letras de seu nome, espalhadas pelo texto, aqui e ali. Não sei quanto tempo praticamos aquela lúdica terapia, sei que o almoço atrasou, mas, fui testemunha de um momento maravilhoso.
Ela leu pela primeira vez uma palavra, e depois outra, e mais outra, até formar a frase entender o que estava lendo.
__Ah! E meu pai disse que eu nunca ia aprender a ler, por que sou muito burra e era filha de uma cachorra... Eu li, eu li... Queria que ele estivesse aqui para ver isto agora, eu consegui ler!
Contou-me ter sofrido muito com um marido que a agredia. Ele havia roubado e escondido seus filhos, sem que ela nunca mais os tivesse visto ou tido notícias deles. Isto tudo depois de ser criada desde bebê por um pai violento e alcoólatra. Também tinha sido praticamente vendida para um prostíbulo na adolescência...
Pediu-me que um dia escrevesse sua história:
___Minha mãe tinha três filhos. Meu pai trabalhava de pedreiro, o dia inteiro, chegava tarde da noite... Eu tinha uns dois meses, quando minha mãe se apaixonou por outro homem e foi embora levando os meus irmãos maiorzinhos.
Ela me deixou prá trás, num cesto, no chão da cozinha. Meu pai já tinha ido trabalhar. Só voltou muito de noite. Eu devo ter chorado de fome o dia inteiro.
Quando meu pai chegou de noite, teve que me disputar com uma cadela da rua que tinha parido no quintal. Ela deve ter escutado meu choro e, deixando no ninho seus filhotes, forçou a porta e me amamentou, até que meu pai chegasse. Depois, ele teve que espantar a cachorra com um pedaço de pau, prá me pegar de volta.
Se não fosse aquela mãe postiça, que me deu o leite de seus cachorrinhos acho que eu tinha morrido de fome e sede.
Sabe este calor que faz por aqui, a gente seca que nem planta... Imagina um neném, ficar o dia inteiro sem comer nem beber, numa casa baixa, destas de telha de Eternite, e sem forro... Com este verão que frita ovo no asfalto!
Por isso, meu pai dizia que eu era filha de uma cadela, por que uma cadela vira-lata me amou mais que minha mãe de verdade.
Depois, continuou ela, meu pai foi para o garimpo, debrear barranco em busca de ouro que nunca chegava.
Cozinhei no chão, prá garimpeiro bêbado no meio do mato. Quebrei pedra, dormi em rede, peguei umas cinco malárias...
E acabei numa casa de mulher da vida antes de ter peito. Fui de tudo, fiz de tudo, até que fiquei doente. Foi lá que meu marido me achou e me cuidou. Por isso me batia, achava que eu não prestava e ia fazer com ele como minha mãe fez com meu pai. Por isso, ele fez primeiro. Roubou meus filhos e sumiu com outra...
Se eu tivesse ido na escola e soubesse ler, nem ele nem ninguém tinha feito isto comigo. Agora, é como se eu tivesse visto uma frestinha de luz, num quarto escuro. Eu vou querer ir na escola . Quero aprender a ler de verdade. Quero aprender a ler a Bíblia e todo jornal e história que eu puder ler...

Nunca esqueci a dádiva que foi ouvir tal pessoa. Se agora a recordo é para fazer justiça à promessa empenhada e a todo aprendizado que me coube, através dela, nesta escola que é a vida.
Todo educador deveria ter um tratamento de choque deste quilate, para descobrir o significado de potencialidade.
Quanta história triste teria um fim diferente, ou nem seria triste, se um valorizado e motivado educador tivesse deixado sua marca, muito antes, na infância desta mulher... Ou se tivesse se deixado marcar, para sempre, nestas relações de ensinar e aprender...

domingo, 13 de junho de 2010

Resgate



Resgatei meu coração
Meu coração de criança
Já ia perdendo a esperança
Quando o resgate se deu...

Foi um lance tão mansinho
Sem cantiga de roda
Sem cavalheiro, sem rosa
Nem mesmo chapéu na mão

Quando vi era poeta
Destas com arco e seta
A mirar teu coração

Admirada de mim
Não entrevejo um fim
Projeto ressurreição. (2007)

O que importa não é o que os outros fizeram conosco, mas, o que nós fazemos com aquilo que os outros fizeram de nós. (Jean-Paul Sartre)

Começar pode ser 
um simples acidente, 
mas, recomeçar 
é um ato de liberdade,
de escolha, 
de livre arbítrio indevassável...