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Textos de própria autoria, salvo aqueles que citam fontes ou outros autores.( Renata )


terça-feira, 15 de junho de 2010

Conversa no ônibus

Clarinha subiu no ônibus, logo ali, na Iguaçu. Tinha levado o menino no médico, perto do Hospital Pequeno Príncipe. Uma senhora entrou logo depois no ônibus, talvez no próximo ponto. Vinha cheia de sacolas, uma touca de lã na cabeça. Tinha ares de quem fazia quimioterapia, desta que fazem cair o cabelo. O jeito é variar em tudo que se pode, para esconder a cabeça... Puxou conversa:
__A senhora gostou da minha touca? Sou eu mesma que faço... Tenho uma porção delas...
Clarinha deu corda:
__É bem bonita.
__Estou indo visitar meu neto na escola, estou levando uma porção de coisas que ele gosta, passei no mercado antes. Este ônibus para na Sete?
__Para sim, eu lhe digo o ponto, vou descer bem depois...
__Eu não moro aqui, continuou ela, sou lá do alto da Glória. Meu filho aluga um quarto prá mim. É bonito, grande, mobiliado. Numa daquelas casas grandes e antigas. Tem até telefone no quarto. Tem mais dois casais que dividem a casa. Só a cozinha a gente usa junto. A senhora sabe quanto está o aluguel por aqui, ficava mais perto, para eu ir ver meu neto. Venho uma vez por semana na hora do recreio dele. Lá, eu pago duzentos e cinqüenta, mas com tudo mobiliado, incluindo as contas de luz, água e telefone...
__Acho até que a senhora achava alguma coisa por aqui, mas, não ia ter todo este conforto, nem as despesas incluídas. Depois, lá a senhora não está sozinha, tem os casais por perto, qualquer coisa é só chamar alguém.
__É mesmo, a senhora tem razão. Sabe, eu morava com a minha filha, quando ela separou. Eu cuidei do menino dela desde que nasceu. Mas, agora ela casou de novo, o apartamento ficou pequeno e a paciência da minha filha encolheu. Já não sou a mesma que eu era... Não parece, mas eu já tenho quarenta e oito anos. Daqui a dois anos faço setenta...
Clarinha percebeu que ela tinha se enganado na idade, mas ficou quieta, fez que não percebeu, por que, a esta altura o ônibus inteiro ouvia a conversa da mulher e tinha uma risadinha de deboche no ar, por que ela falava muito alto e já tinha tentado conversar com outras pessoas antes de sentar ali, e ninguém lhe dera muita atenção. Contou sobre os filhos. Falou de outros netos distantes. Apontei o ponto do ônibus, mas ela tinha que acabar de contar o que tinha começado. Os outros passageiros começaram a ficar incomodados que a mulher ia perder o ponto da Sete. Uma passageira falou:
__Levanta logo, que a senhora não vai conseguir descer neste ponto.
Ela desceu do ônibus, apressada, não sem antes beijar e abraçar rapidamente Clarinha e o menino.
Quando ela desceu do ônibus todos os passageiros lhe disseram:
__ "Tchau"!
Depois o ônibus silenciou-se e todos se entreolharam numa cumplicidade que ia além do conhecer ou desconhecer alguém. Foi só um momento de humana compreensão pelo estado de solidão que devia viver a tal senhora. O menino de Clarinha, que não era de ficar muito tempo quieto, prestou atenção em tudo, calado, de olhos arregalados. Depois perguntou:
__Mãe, ela era tua amiga há muito tempo?
__Não, meu filho, acabei de conhecer...
__Nossa, mãe, então como ela contou a vida toda prá você! Ela te pediu alguma coisa?
__Ela só pediu uma coisa, meu filho, ela só queria um pouco de atenção, de alguém que escutasse o que ela tinha prá dizer.
Clarinha lembrou-se de um amigo carioca, que visitando Curitiba, achou muito elegante os ônibus rodando com os passageiros em silêncio ao som de musica clássica, e pensou:
__Muita gente pode achar um grande "mico" ouvir histórias nos ônibus e dar atenção, aos passageiros que os adolescentes de hoje chamariam de “mala", mas às vezes estas malas vêm recheadas de tanta sabedoria que vale a pena esquecer-se de olhar o relógio ou parar de se esconder atrás da parafernália que a gente vê como armadura de defesa nos passageiros de ônibus. Prá começar, óculos escuros; fones nos ouvidos, com música, para não ter nenhum espaço que dê margem para alguém lhe olhar nos olhos e dizer:
___Bom dia, Será que vai chover hoje?
(Um jeito clássico de quem quer se mostrar aberto a um bom papo...)

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